Quando o Amazon anunciou em maio de 2012 que iria começar a investir na produção de séries, ele restringiu o desenvolvimento de projetos às comédias e aos programas infantis, dois segmentos de fácil aceitação do mercado e do público.
Depois de produzir os pilotos para avaliação e disponibilizá-los para que o público (EUA, Reino Unido e Alemanha) pudesse escolher qual deles mereceria ter sua produção aprovada, o estúdio anunciou a encomenda de suas primeiras séries. Entre aquelas voltadas para o público adulto estão Alpha House e Betas. A primeira é uma comédia situada nos bastidores da política e a segunda trata do universo das novas tecnologias.
Antes mesmo da estreia dessas produções, que não chegaram a gerar burburinho entre o público ou a crítica, o Amazon anuncia seu interesse em começar a investir na produção de séries dramáticas e de curtas metragem. Para este último, o processo de seleção será o mesmo das séries cômicas e infantis, ou seja, roteiristas interessados enviam seus projetos para avaliação de uma equipe do estúdio. Já para as séries dramáticas (que custam mais caro), o processo seguirá o modelo dos demais canais de TV.
O Amazon está contratando um profissional para se encarregar do departamento de desenvolvimento de projetos dramáticos. As exigências revelam a seriedade com a que o site pretende trabalhar nesta área. O profissional que eles procuram precisa ter bacharelado em direito, administração ou cinema, o mínimo de oito anos de experiência bem sucedida no desenvolvimento de séries, experiência na supervisão simultânea de diversas produções, bom histórico no gerenciamento de equipes, ser criativo na solução de problemas e paixão pela inovação.
A pessoa que for contratada terá que ser capaz de buscar e avaliar projetos com potencial, supervisionando seu desenvolvimento para que ele possa ser produzido pelo Amazon. Também faz parte da função do diretor de conteúdo supervisionar a produção de pilotos e séries para que eles não ultrapassem o orçamento, mantendo a qualidade.
Em 2012, o Amazon tinha destinado 2.7 milhões de dólares para a produção de pilotos/séries cômicas e infantis. Até o momento, o estúdio não divulgou qual será o orçamento inicial para a produção das séries dramáticas, mas deverá ser maior.
O investimento na produção de séries dramáticas coloca o Amazon em concorrência direta com o Netflix, que já tem três dramas originais em seu catálogo: House of Cards (com potencial para entrar no circuito de premiações), Orange is the New Black (que estreia no dia 11 de julho) eHemlock Grove (que não conseguiu se estabelecer no quesito qualidade, mas já foi renovada). O Netflix também ofereceu uma nova temporada de Arrested Development, que ainda não tem previsão de continuar a ser produzida, tendo em vista a dificuldade de reunir os atores. Lembrando que Lilyhammer é uma série de um canal da Noruega, adquirida pelo site para exibição internacional. A boa receptividade conquistada por ela levou o Netflix a entrar como coprodutor da segunda temporada.
Qual seria a razão pela qual sites de streaming como o Amazon, Netflix, Crackle e Hulu, entre outros, investem cada vez mais na produção original? Neste primeiro momento, ela serve para oferecer aos assinantes programas que eles não encontrariam em nenhum outro lugar. Bom, em termos, já que as séries do Netflix são produzidas por estúdios terceirizados que lançam o produto em DVD.
Em entrevistas, representantes desses sites deixaram claro acreditar que, no futuro, o DVD e Blu-Ray serão extintos. Para eles, o público estará mais interessado na praticidade de acesso ao conteúdo e em liberar o espaço que as mídias ocupam na casa. Os sites de streamings poderiam se tornar a videoteca ‘particular’, substituindo inclusive os canais a cabo.
No caso de isso acontecer de fato, os canais e estúdios poderiam investir (mais) no streaming de sua programação. O que significaria que seus programas seriam retirados dos catálogos de terceiros. A HBO já faz isso. Seus programas estão disponíveis unicamente para quem assina a HBO Go. O mesmo acontece com os programas da Rede Globo, no Brasil. Se a Paramount, Universal, Sony, Fox, Warner e demais estúdios começarem a oferecer streamings com exclusividade em sites próprios ou de canais específicos de TV, empresas como o Amazon, Netflix, Hulu e Crackle ficariam sem o conteúdo dos grandes estúdios para oferecer.
Devemos lembrar que o Netflix só começou a investir na produção original depois que o canal Starz decidiu não renovar seu contrato com o site no início de 2011. Na época, o canal justificou sua decisão como uma estratégia para proteger o valor de mercado de seu conteúdo (que ficou restrito aos assinantes de TV a cabo e usuários de DVD, bem como à venda internacional). A decisão do Netflix influenciou o Hulu, que estreou sua primeira série, Battleground, antes do Netflix começar a exibir House of Cards.
No caso da produção original dos sites avançar, tornando-se maior ou equivalente ao conteúdo de terceiros, eles poderão se tornar tão importantes quanto os estúdios e canais de hoje.
Para nós, que nos beneficiamos desses investimentos, resta torcer por duas coisas. A primeira, e a mais importante, que eles invistam em gêneros e abordagens diversificadas de séries e filmes, não restringindo sua produção a programas que atraem um público maior (ignorando os demais segmentos). A segunda, que as barreiras internacionais caiam e o acesso ao streaming de sites independentes, estúdios e canais sejam legalmente acessíveis (com opção de legendas) a qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo com conexão com a internet.
Fonte: Fernanda Furquim para Veja
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